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Salmonelose humana causada por répteis

Devido à expansão nos últimos anos, do mercado de animais exóticos como "pets", centenas de tartarugas são comercializadas em grandes centros como a cidade de São Paulo.

Não existe, no entanto, até o momento, controle de sanidade destes animais, quanto ao seu potencial zoonótico. É importante salientar os prejuizos para a Saúde Pública, representado pela comercialização irresponsável destes répteis, colocando em risco a saúde de pessoas, principalmente dos animais e principal grupo de risco.

A Tartaruga de "Orelha Vermelha" (Trachemys scripta elegans) é uma das mais populares entre as pessoas que optam por esse tipo de réptil como animal de estimação, tendo sido facilmente encontrada no comércio de São Paulo. Esta espécie possui hábitos diurnos, chega a ter 25 centímetros de tamanho de casco.

A maturidade sexual ocorre com 4 anos. O macho possui as unhas dos membros anteriores avantajadas (para agarrar a carapaça da fêmea na cópula) e a cauda mais comprida o que facilita a introdução do pênis, pois a cloaca fica mais caudal. As fêmeas têm postura de 5 a 22 ovos com período de incubação de 93 dias à temperatura de 25 a 30ºC.

Em cativeiro, vive bem em aquaterrários, recintos que possuem uma parte terrestre e outra aquática, desde que este atenda às suas necessidades de espaço. Alimenta-se nestas condições de produtos comerciais, pequenos peixes, plantas e insetos aquáticos, além de alguns vegetais.

A temperatura ideal está na faixa de 25 a 30ºC. Deve receber radiação solar ou permanecer em ambientes com lâmpadas de UVB afim de ficar cálcio, evitando doenças osteodistróficas. As condições em cativeiro, por melhor que sejam, raramente reproduzem na totalidade o ambiente natural do animal, o que culmina com o desenvolvimento de níveis constantes de estresse.

Os animais, que em situações normais vivem em harmonia com os vários agentes que os cercam, quando submetidos à fatores estressantes, são levados à incapacidade do sistema imunológico, podendo ocorrer quadros infecciosos.

Os répteis, em geral, são portadores assintomáticos de Salmonella spp, manifestando a doença somente em casos de queda de imunidade. Segundo alguns autores, estudos realizados demonstraram que portadores sadios desta bactéria apresentam a infecção de forma latente. O estresse produzido através do transporte, colocação em novo ambiente, mudança alimentar ou de manejo, ou simples exposição em um "Pet Shop", pode levar à ativação do processo infeccioso latente, com conseqüente eliminação de Salmonella pelas fezes.

A situação se agrava ainda mais com os comerciantes irresponsáveis que importam os animais de forma ilegal e em péssimas condições, lembrando que está proibida a importação de répteis, e por proprietários desinformados, é comum ver em clínicas particulares proprietários relatando que os animais não vivem por muito tempo morrendo com facilidade e durante a anamnese constatamos que eles desconhecem os cuidados básicos e necessidades dos animais.

Uma vez tendo sido eliminada por animais infectados, a Salmonella apresenta alta resistência no ambiente. Estudos mostraram que esta se mantém virulenta por 89 dias em água de tanques, 120 dias em solo seco, 280 dias em gramados, 28 meses em fezes de aves e 30 meses em esterco de vaca. Devido a isso, não somente o contato direto com os animais, mas também a manipulação do seu recinto pode levar à infecção humana.

Estes dados apresentam grande importância na epidemiologia das infecções humanas por Salmonella spp, uma vez que o manipulador do recinto corre sérios riscos de infecção nestas condições, já que a esta bactéria pode penetrar através de soluções de continuidade de pele ou pela mucosa digestiva.

Os sintomas de salmonelose humana incluem dor abdominal, diarréia, disenteria, náuseas, vômitos, cãibras e febre. Sérias complicações como meningites e abcessos cerebrais em crianças também são reportados. O médico veterinário tem um papel fundamental no controle da salmonelose animal e humana, este deve informar ao proprietário sobre as necessidades básicas do animal e também orientar sobre medidas profiláticas de higiene.

Não devemos esquecer que a baixa notificação de casos de salmonelose humana causada por esses "pets" pode estar diretamente relacionada a sub-notificação dos casos por parte dos médicos devido aos sinais clínicos serem muito inespecíficos e que nem sempre ocorre a indagação do paciente sobre um possível "Pet".

Acredita-se que o número de casos seja maior do que é relatado.

M.V.André Grespan

Boletim Informativo ANCLIVEPA - Ano VI - Nº25

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