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Seu papagaio é feliz?


É possível que um papagaio de estimação seja tão “feliz” em cativeiro quanto seria na natureza? Como os psitacídeos em especial são animais muito inteligentes, ter um papagaio de estimação é como mantê-lo em uma prisão… ou poderia ser uma experiência feliz para todos?

Como médico veterinário e apaixonado por aves no geral, principalmente por psitacídeos, essa é uma questão com a qual eu luto dia-a-dia, e mesmo a cada momento - e sobre a qual eu já perdi o sono.

É um sentimento que nunca vai embora, realmente, incômoda meu coração. Será que os animais que cuido seriam mais felizes se fossem selvagens? Será que consigo auxiliar os tutores a proporcionar a tal da “felicidade”?

Passei a ler sobre o assunto e encontrei uma pesquisa com pássaros canoros onde se afirma que 83% deles morrem nos primeiros anos de vida. Eu sei que os psitacídeos são diferentes das aves canoras, mas ... eu vou considerar esses parâmetros.

A expectativa média de vida de uma ave canora é de 2,6 anos, por exemplo, embora a vida útil real seja de mais de 15 anos. Você pode ler mais sobre isso neste artigo interessante (clique aqui para ler). Eu não sabia que a expectativa de vida dos pássaros selvagens era tão curta.

Devemos lembrar que a vida selvagem não é um “paraíso”, mas sim cheia de obstáculos e muitos animais morrem lutando pela sobrevivência, só há espaço para o mais forte e melhor adaptado. O mundo selvagem é belo, mas também é muito, muito duro.

Seca, chuva, calor, frio, fome, ferimentos, doenças, parasitas, poluição, intoxicação, competição, desmatamento, tráfico e predação fazem parte das dificuldades e incertezas das quais as aves selvagens devem superar para viver.

(Fique comigo! Eu prometo que há um final feliz aqui!)

A Dra. Christine Wilcox escreveu um texto muito interessante sobre esse pensamento, chamado “Bambi or Bessie: Os animais selvagens são mais felizes?”, publicada na revista Scientific American (clique aqui para ler). É um excelente ensaio que vale a pena ler e refletir.

Em suma, a Dra. Wilcox acredita que os animais que são criados em cativeiro, que recebem cuidados básicos e atenção (com socialização e enriquecimento) são muito mais felizes do que os animais selvagens e ela também apresenta bons dados para embasar essa ideia.

Então, baseado em algumas coisas que já li e na minha experiência ao longo de 20 anos de profissão, aqui estão os meus humildes pensamentos sobre o tema.

A afirmação – “Um animal em cativeiro pode ser comparado à prisão” - me deixa enjoado de tristeza. Certamente esta afirmação se torna totalmente verdadeira quando os animais no cativeiro não recebem amor, cuidados de saúde, convívio social, alimentação adequada, espaço físico, liberdade de escolha e, especialmente, enriquecimento ambiental.

Esta é particularmente uma preocupação que se justifica quando pensamos nas aves em cativeiro. É tão fácil “calar” suas vozes, mantê-las apenas como decoração. Neste aspecto a cultura de boa parte da população brasileira é omissa e cruel com as aves. Sempre me vem a minha imaginação aquela imagem deprimente do “papagaio da vovó” preso em uma gaiola minúscula, suja e enferrujada, comendo somente girassol e bebendo agua em pote cheio de limo. (infelizmente não é raro ver isso durante nossas consultas)

Acredito que manter um psitacídeo em cativeiro pode ser comparado à infância das pessoas, em certo sentido. Os seres humanos podem ter uma infância feliz, mesmo com as dificuldades do dia-a-dia, escolhas de vida e claro com alguns dos solavancos que acompanham a jornada do crescimento.

As crianças em geral têm brinquedos, atividades, têm enriquecimento, experiências, convívio social e podem ser profundamente amadas, e com isso acabam sendo profundamente “felizes” também.

Enquanto se vive uma existência de profundo amor, em um lar com espaço, cuidados, brinquedos, amigos e tutores que o amam ferozmente, um papagaio de “cativeiro” pode ser comparado a uma criança de infância feliz de longo prazo - talvez alguns desafios ao longo do caminho - mas preenchido até mesmo com os tipos de escolhas que as crianças fazem: seus amigos, suas comidas favoritas, jogos, aprendizado e atividades.

É perfeito quando os tutores se tornam sensíveis às necessidades de seus “pequenos” e se preocupam em preenchem suas vidas com variedade de enriquecimentos, de coisas para provar, experiências a serem experimentadas, treinamento e carinho.

Quando eu olho para muitos de vocês, tutores e amigos que absolutamente adoram suas aves, que se preocupam realmente com o bem-estar delas, realmente acredito que uma vida em cativeiro pode ser uma vida “feliz” de fato.

Claro que maus tratos e negligência ainda existem e que o número de pessoas que realmente se preocupam com o bem-estar dos animais ainda é pequeno, mas só o fato de existirem pessoas comprometidas e que mostram para o mundo este novo tipo de relação com seus animais me faz ter esperança em um futuro melhor.

Felicidades para todos vocês que são tutores incríveis! Deixo aqui meu muito obrigado por darem um sentido maior a minha vida profissional e pessoal.

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